Borém Cafés Especiais: uma estória de amor pelos cafés especiais

O ofício de ensinar e aprender

Peço licença pra chegar devagar, com dois dedos de prosa e um punhado de memória, pra te contar como nasceu o Borém Cafés Especiais — que vai além de uma simples bebida: é afeto, sustento e caminho de volta pra casa.

Confesso que queria escrever um texto bonito, daqueles com cheiro de café passado na hora, alma mineira e frases que aquecem igual abraço de mãe. Porém, poeta não sou. Meu ofício sempre foi outro: transformar giz em conhecimento e, da poeira da estrada, fazer caminho. Além disso, ensino o que aprendi com a vida e com o campo, e faço do café especial um saber que alimenta corpo e alma.

Muito prazer. Me chamo Flávio Borém. Sou professor. De café, de ciência, de resiliência.

Durante anos, ensinei muita gente — da roça, da cidade, da universidade — a reconhecer o valor do grão. Falei sobre terroir, colheita, a arte de secar, guardar, o processo de torra e o cuidado com o que a natureza nos oferece. Contudo, sigo sendo aprendiz. A lição mais difícil que recebi foi entender que também precisamos empreender aquilo que é da gente.

A pergunta que nunca cala

Uma pergunta sempre voltava, feito chuva fina que molha sem a gente perceber:
“Borém, por que o senhor não tem seu próprio café especial?”

Com o jeito quieto dos mineiros que têm fé, eu respondia:
“Uai, porque pra ser professor e comerciante, tem que ser valente.”

O mundo deu voltas, e a vida, às vezes, é feita pra desmentir a gente.

Quando o mundo virou de cabeça pra baixo

A pandemia chegou, trazendo aperto, e as filhas foram crescendo — uma estudando pra curar o corpo, outra pra cuidar da alma. O susto das contas também veio. Junto dele, aquela pergunta antiga ressurgiu:
E se desse?
E se tudo que carreguei por tantos anos entre salas de aula e lavouras de café especial virasse sustento?
E se tudo que ensinei pudesse agora se tornar ofício, oferecido numa xícara quente de café?

Uma idéia nutrida na amizade

Tínhamos o saber, o gosto treinado, as mãos prontas. Só faltava o café especial.

Então, vieram os amigos — desses que Deus planta como uma aroeira firme no chão: Tulio e Lu, da Carmo Estate; Rubio e Monica, da Vila Boa.
Gente de fibra e fé, produtores dos melhores grãos de café especial.
“Pode contar com a gente, Borém. Vai dar certo.”

Com esses grãos, nasceu a Borém Cafés Especiais e o nosso primeiro blend. Um café doce como infância, com gosto de mel e rapadura, corpo forte que nem o vozeirão de pai, e um fundinho de chocolate que cola na memória.

A ideia inicial era simples: tudo seria vendido online.
Mas a vida… ah, a vida gosta mesmo é de surpreender.

Um convite que mudou tudo

Foi quando Camila, nossa filha, olhou para a vida com outros olhos. Ela havia estudado para concurso, mas a alma queria algo que não cabia no edital.
De pai para filha, fiz o convite sem saber o tamanho da mudança:
“Vamos abrir uma cafeteria em Lavras?”

Ela, num salto de alegria, disse sim — com os olhos brilhando mais do que o fogão aceso de manhã cedo.

Abrimos. Passamos por dificuldades, rimos, quase desistimos. Mas seguimos firmes.
Camila virou administradora, a torra virou melodia, e o café especial, sonho em forma de aroma.

Hoje, a Borém Cafés Especiais conta com uma microtorrefação que cuida de cada grão como quem cuida de oração.
Cada pacote que entregamos na sua casa é mais que café especial.
É missão.

O ingrediente principal é o café, sim — mas ele carrega junto nossa história, nosso suor e a confiança de que, no primeiro gole, você vai sentir tudo o que somos.
O que está no rótulo é o que você sente na xícara. E isso, para mim, é sagrado.

Mais que café: missão e legado

Porque o conhecimento, quando amadurece, vira aroma.

De minha família para a sua.
Do meu ofício para a sua mesa.
Do chão da roça, passando pelo fogo da torra, até a paz do seu gole quente.

Esse é o nosso café especial.
E, com licença, é um prazer te servir.